19 de julho 2023
APLV e intolerância à lactose. Qual a diferença?
A alergia à proteína do leite de vaca (APLV) é uma doença desencadeada por uma resposta imunológica anormal, após o contato e/ou ingestao do leite de vaca (seja ele com lactose ou não). Na maior parte das vezes, as alergia alimentares, sejam por leite ou outros alimentos (sendo o ovo, trigo, frutos do mar, peixe, soja, castanhas, amendoim os mais frequentes em seguida) iniciam-se no começo da vida, e os sintomas vão depender do mecanismo imunológico que as estejam causando. São eles:
Mediadas por IgE
A IgE (imunoglobulina E) é um anticorpo produzido em resposta a algo que esteja causando alergia. Elas acontecem de minutos a poucas horas após a ingestão ou contato com o leite e se manifestam por reações na pele (urticária, inchaço lábios/olhos), inchaço e coceira nos lábios ou língua, vômitos, diarreia broncoespasmo, coriza, e a mais temida anafilaxia (emergência médica). Podem ser diagnosticadas com auxílio de exames de sangue ou testes alérgicos.
Reações nao mediadas por IgE
Geralmente aparecem no primeiro ano de vida e a maioria têm resolução até o fim dele. Ocorrem após muitas horas a dias do contato e se manifestam de forma inespecífica, com sangramento nas fezes, diarreia, vômitos, baixo ganho de peso. São os quadros de proctite, enteropatia induzida por proteína alimentar e enterocolite induzida por proteína alimentar (FPIES). Como não ocorre produção de IgE, não existe exame específico para o diagnostico, que acaba sendo mais desafiador. Ele vai ser feito pela exclusão do leite por algumas semanas, com reintrodução após.
Reações mistas
Encontram-se nesta categoria a asma, dermatite atópica, esofagite eosinofílica, a gastrite eosinofílica, a gastrenterite eosinofílica. Há a participação de IgE e também de outras células.
O diagnóstico da APLV mediada por IgE pode ter alguns exames como auxílio:
– Exames de sangue: Avaliação da presença de anticorpos IgE para leite no sangue
– Teste cutâneo (Prick teste) : É realizado na superfície da pele usando o alérgeno do leite.
É importante lembrar que um exame positivo nem sempre significa que o indivíduo seja alérgico, pois ele apenas evidencia sensibilização alérgica. Quando houver sintomas compatíveis com APLV, os exames podem ser considerados dianóstico. Caso sejam negativos e ainda haja a suspeita de APLV, é necessário realizar o teste de provocação oral (TPO), no qual o especialista avalia o surgimento de sintomas após a ingestão de doses crescentes do leite.
O fundamental no tratamento da APLV é a exclusão total na dieta do leite ou de alimentos que contenham leite, com substituição por outros alimentos que tenham valor nutricional semelhante. O médico deve orientar o paciente a sempre realizar a leitura de rótulos, identificando os nomes que possam corresponder ao leite de vaca. Historicamente os indivíduos com APLV têm um futuro favorável no que diz respeito à tolerância ao leite, embora estudos mais recentes venham demonstrando que há um aumento no número de crianças que chegam a idade adulta ainda alérgicos.
Quando falamos de intolerância à lactose, estamos nos referindo ao açúcar presente na maioria dos leites. Para que ela seja absorvida em nosso intestino delgado, precisa ser quebrada em glicose e galactose pela enzima chamada lactase. Só assim, as nossas células vão conseguir utilizar essa substância como fonte de energia. Se o indivíduo tiver alguma deficiência (total ou parcial) de lactase, essa absorção não acontece e, então, as bactérias do intestino grosso vão metabolizar a lactose em gases. Surgem, assim, os sintomas comuns desta condição: flatulência, distensão abdominal, diarreia, cólicas, vômitos, náuseas e constipação intestinal. Isso ocorre entre meia hora a duas horas após a ingestão de algum produto contendo lactose, e vai depender da quantidade consumida, da idade da pessoa, do trânsito intestinal e, até mesmo, de fatores genéticos.
Existem causas diferentes para a intolerância à lactose, dividindo a doença em três tipos:
– Intolerância secundária à lactose: O indivíduo não nasce, mas sim, adquire a doença de forma temporária, devido a lesões no intestino delgado, após diarreia por algumas verminoses, gastroenterite viral, APLV, doença celíaca e doença de Crohn, entre outras situações. Bebês prematuros também podem ter.
– Intolerância congênita à lactose: manifesta-se pouco depois do nascimento e é uma doença genética bastante rara. O recém-nascido não pode ser amamentado pelo seio materno, apenas por fórmula láctea sem lactose.
– Hipolactasia do “tipo adulto”. Inicia-se após os 3 anos de vida e também tem causa genética, ocorrendo somente naqueles com predisposição. Presente na maioria da população mundial adulta
Como é feito o diagnóstico de intolerância à lactose?
De quatro formas diferentes. A mais realizada é a retirada de todos os alimentos com lactose da dieta, com resolução dos sintomas após poucos dias ou algumas semanas. Também pode ser feito o Teste respiratório que avalia a eliminação de hidrogênio no ar que a pessoa expira. Quando a lactose não é absorvida, ela é fermentada e vai haver produção de hidrogênio, que posteriormente será eliminado na respiração. Temos ainda o teste de tolerância a lactose, que mede a elevação na glicemia (ou seja, da glicose gerada após quebra da lactose) a valores maiores que 20 mg/dL do jejum, o que ocorre apenas nos intolerantes. Há, também, o teste genético, na suspeita de congênita.
Diferentemente dos alérgicos, as pessoas intolerantes podem consumir produtos lácteos, desde que seja de forma reduzida. Em casos mais graves, existem produtos com redução de 80-90% de lactose. A enzima lactase também pode ser utilizada em algumas situações.
Fontes:
http://aaai-asbai.org.br/detalhe_artigo.asp?id=865
http://aaai-asbai.org.br/detalhe_artigo.asp?id=851
https://www.sbp.com.br/especiais/pediatria-para-familias/noticias/nid/intolerancia-a-lactose/#:~:text=Ocorre%20na%20maioria%20da%20população,os%203%20anos%20de%20idade.
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Especialista em Alergia, Imunologia e Pediatria, com atendimento no bairro Bela vista, em São Paulo e no bairro Santo Antônio, em São Caetano do Sul