07 de julho 2023
Hoje eu venho conversar sobre um documento que a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia, mais especificamente o Departamento de Imunologia, produziu e que está super legal. Ele aborda o tema Mitos e Fatos nos Erros Inatos da Imunidade ou Imunodeficiências Primárias, que nada mais são do que doenças genéticas, que levam uma maior chance de adquirir infecções graves, infecções de repetição, autoimunidade, autoinflamação, e até certos tipos de câncer. Algumas são raras, outras já nem tanto, e a gravidade irá depender do defeito imunológico que é acometido, e a extensão do comprometimento. Embora menos comum, adultos também podem ser diagnosticados com Erros Inatos da Imunidade, tanto por atraso no diagnóstico em alguns casos, como por manifestação tardia de sintomas.
O nosso sistema imunológico tem a função de nos proteger contra microorganismos, e também funciona como um vigia para o controle de células tumorais e de anticorpos que podem agir contra o nosso próprio organismo, os autoanticorpos. A sua falha pode levar a uma série de condições, como infecções graves, infecções por germes que usualmente não causam doença, tumores, doenças autoimunes/autoinflamatórias e alergias graves.
Então toda criança que tem infecções recorrentes tem imunodeficiência?
Não. O nosso sistema imunológico não nasce pronto. Ele está em constante desenvolvimento e, principalmente até por volta dos quatro anos, as crianças vão ter várias infecções, principalmente respiratórias de vias aéreas altas, com tosse, coriza, congestão nasal e, eventualmente, até mesmo febre, sem que isso obrigatoriamente seja um problema. É claro que, se essas infecções forem de maior gravidade, e se acometerem vários locais do nosso corpo, uma avaliação detalhada e individualizada deve ser realizada. A maioria das crianças não terá nenhuma doença imunológica, e, em alguns casos, somente serão alérgicas.
É importante destacar que febre não é sinal necessariamente de gravidade, nem mesmo mais alta, e nem sempre o uso de antibióticos será adequado em todos os casos em que ela esteja presente. Além disso, medicação para febre é somente se a criança estiver com desconforto, sentindo dores, irritada, prostrada e com mal estar. Se em bom estado geral, como pode acontecer, o mais adequado é aguardar, pois com uma boa hidratação e paciência, ela pode ceder sozinha. Diferente do que se achava antigamente, não há diferença na frequência de convulsões febris naquelas crianças que foram ou não medicadas para febre. Banhos frios/gelados só irão trazer mais desconforto à criança e não são indicados, assim como, a alternância ou associação de antitérmicos também não o são.
E será que existe o remédio para aumentar a imunidade?
As crianças que frequentam creche podem ter até cerca de 12 infecções ao ano e, a princípio, está tudo bem. Remédio para a imunidade tem que ser direcionado àquele indivíduo que realmente tem acometimento imunológico diagnosticado. No mais, não existe receitinha de bolo. Precisamos ter hábitos saudáveis, como comer bastante frutas e verduras, evitar alimentos ultraprocessados, dormir bem e no horário adequado, ter bastante contato com a natureza, frequentando locais abertos e arborizados, e, tão importante quanto, ou mais, ter o cartão vacinal em dia. Existem muitos tratamentos não comprovados oferecidos para melhorar a imunidade, mas sem evidência científica de qualidade que comprove seus benefícios. Dosagem de vitaminas no sangue também não é suficiente para avaliar o funcionamento do sistema de defesa do nosso corpo e não faz diagnóstico de imunodeficiência. Na dúvida, é importante a avaliação por especialista credenciado pela Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI).
Leite materno aumenta imunidade?
O leite humano é fonte de macronutrientes e células do nosso sistema de defesa, como as imunoglobulinas (anticorpos), principalmente a IgA. Este tipo protege as nossas vias digestivas e respiratórias, e não está presente no recém-nascido ainda. A amamentação também pode evitar que a criança tenha alergias, sendo recomendada de forma exclusiva por pelo menos os seis primeiros meses de vida, devendo ser continuado, se possível, mesmo depois da alimentação sólida ser introduzida. Mães de bebês prematuros têm maior quantidade de anticorpos em seu leite.
Abaixo, seguem os 10 sinais de alarme para Erros Inatos da Imunidade ou Imunodeficiências primárias:
Referências:
Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) – https://asbai.org.br/
Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) – https://www.sbp.com.br/
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Especialista em Alergia, Imunologia e Pediatria, com atendimento no bairro Bela vista, em São Paulo e no bairro Santo Antônio, em São Caetano do Sul