O que é a Alergia Alimentar?

O que é a Alergia Alimentar?

20 de agosto 2024

Introdução
A alergia alimentar é uma condição clínica que afeta uma parcela significativa da população, com prevalências que variam entre crianças e adultos. No Brasil, o manejo dessa condição tem sido guiado por consensos estabelecidos por instituições como a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI).

Definição e Epidemiologia

A alergia alimentar é definida como uma reação adversa ao alimento mediada por mecanismos imunológicos, principalmente pela imunoglobulina E (IgE). É importante diferenciar essa condição de outras reações adversas a alimentos, como intolerâncias alimentares, que não envolvem o sistema imunológico.

Estudos indicam que a prevalência de alergia alimentar tem aumentado nas últimas décadas, particularmente em crianças. No Brasil, estima-se que cerca de 6% das crianças e 3,5% dos adultos sofram de algum tipo de alergia alimentar. A sensibilização a certos alimentos como leite, ovo, soja, trigo, amendoim, frutos do mar e castanhas é mais comum, embora a apresentação da alergia possa variar conforme fatores genéticos e ambientais.

Mecanismos Imunológicos

As reações alérgicas alimentares são geralmente divididas em três tipos principais: mediadas por IgE, não mediadas por IgE e mistas. As reações mediadas por IgE são as mais conhecidas e têm início rápido, ocorrendo minutos a horas após a ingestão do alimento alergênico. Manifestações incluem urticária, angioedema, anafilaxia, entre outras.

Por outro lado, as reações não mediadas por IgE costumam envolver mecanismos de hipersensibilidade tardia, como as reações inflamatórias que ocorrem no trato gastrointestinal, incluindo enterocolite induzida por proteína alimentar. Já as reações mistas combinam tanto os mecanismos mediados por IgE quanto os não mediados por IgE, como visto em doenças como dermatite atópica e esofagite eosinofílica.

Diagnóstico

O diagnóstico da alergia alimentar é baseado em uma combinação de história clínica detalhada, testes laboratoriais e, em alguns casos, a realização de testes de provocação oral.

  1. História Clínica: É o primeiro passo fundamental, onde o profissional de saúde coleta informações sobre os sintomas, o tempo de início, a quantidade de alimento ingerido, e as condições em que a reação ocorreu. Além disso, é importante investigar se há antecedentes familiares de alergias.
  2. Testes de Sensibilização: Após a história clínica, são recomendados testes para verificar a sensibilização ao alérgeno, como o teste cutâneo de puntura (prick test) e a dosagem de IgE específica no sangue. Esses testes, embora úteis, não são definitivos para o diagnóstico de alergia, uma vez que a sensibilização não implica necessariamente em uma reação clínica ao alimento.
  3. Teste de Provocação Oral: Considerado o padrão-ouro para o diagnóstico, o teste de provocação oral envolve a administração gradual do alimento suspeito sob supervisão médica, em um ambiente controlado. É reservado para casos onde o diagnóstico permanece incerto, após a realização dos testes anteriores.
  4. Manejo e Tratamento

O manejo da alergia alimentar envolve, primeiramente, a eliminação do alérgeno identificado da dieta do paciente. No entanto, essa estratégia requer um acompanhamento cuidadoso para evitar deficiências nutricionais, especialmente em crianças, que estão em fase de crescimento e desenvolvimento.

    1. Dieta de Eliminação: A eliminação rigorosa do alérgeno é essencial para prevenir reações alérgicas. Para alimentos como leite de vaca, ovo, amendoim e frutos do mar, é necessário estar atento à rotulagem de alimentos processados, pois traços desses ingredientes podem estar presentes.
    2. Substitutos Nutricionais: No caso da alergia ao leite, fórmulas especiais, como fórmulas extensamente hidrolisadas ou à base de aminoácidos, são indicadas para crianças. A suplementação de cálcio e vitamina D pode ser necessária em dietas restritas.
    3. Tratamento das Reações Agudas: Em casos de reações agudas, especialmente anafilaxia, a administração de adrenalina intramuscular é o tratamento de escolha. Anti-histamínicos, corticoides e broncodilatadores podem ser usados como terapia adjuvante, dependendo dos sintomas apresentados.

Alergia Alimentar e Qualidade de Vida

A alergia alimentar afeta diretamente a qualidade de vida dos pacientes e suas famílias. Crianças com alergias alimentares podem sofrer com limitações sociais, como a exclusão de atividades escolares e sociais, devido ao risco de exposição acidental ao alérgeno. Da mesma forma, os pais enfrentam altos níveis de ansiedade e preocupação constante em relação à segurança alimentar dos filhos.

Programas de educação sobre alergia alimentar são essenciais para garantir que os pacientes e suas famílias estejam bem-informados sobre como evitar exposições acidentais, reconhecer os sinais de uma reação alérgica e administrar a medicação adequada em caso de emergência.

Novas Abordagens Terapêuticas

Nos últimos anos, novas abordagens terapêuticas têm sido estudadas para o manejo da alergia alimentar. A imunoterapia oral (ITO), por exemplo, é uma técnica que visa dessensibilizar o paciente ao alérgeno alimentar, através da exposição gradual a doses crescentes do alimento. Estudos têm mostrado que a ITO pode ser eficaz para alguns alimentos, como amendoim e leite, aumentando a dose tolerada pelo paciente e reduzindo o risco de reações graves em caso de ingestão acidental. No entanto, essa deve ser realizada sob supervisão rigorosa de especialistas.

Prevenção

A prevenção da alergia alimentar tem sido um tópico de grande debate. Durante muitos anos, recomendava-se a introdução tardia de alimentos potencialmente alergênicos na dieta das crianças, como leite, ovo e amendoim. No entanto, estudos mais recentes, como o estudo LEAP (Learning Early About Peanut Allergy), sugerem que a introdução precoce de certos alimentos, a partir dos 6 meses de vida, pode reduzir significativamente o risco de desenvolvimento de alergia, especialmente em crianças com alto risco, como aquelas com eczema grave ou história familiar de alergias.

Bibliografia:
Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 2018 – Parte 1 e 2



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