11 de outubro 2024
A urticária crônica é uma condição clínica que se caracteriza pela presença de urticas ou angioedema persistentes, com duração superior a seis semanas. Sua complexidade e impacto na qualidade de vida dos pacientes tornam essencial o entendimento de sua etiologia, diagnóstico e manejo.
1. Definição e Classificação
A urticária é uma reação cutânea caracterizada pelo surgimento de lesões elevadas, pruriginosas e geralmente efêmeras. A forma crônica é classificada em dois tipos principais:
– Urticária Crônica Espontânea (UCE): ocorre sem um desencadeante identificável e é a forma mais comum.
– Urticária Crônica Induzida: provocada por fatores específicos, como pressão, calor, frio ou atividade física.
2. Epidemiologia
A urticária crônica afeta uma proporção significativa da população, com prevalência estimada entre 0,5% e 5%. Ela pode se manifestar em qualquer faixa etária, mas é mais comum em adultos jovens e mulheres. A condição pode ter um impacto substancial na qualidade de vida, interferindo em atividades diárias, sono e saúde mental.
3. Fisiopatologia
A fisiopatologia da urticária crônica envolve uma série de mecanismos imunológicos e não imunológicos. Na UCE, a liberação de histamina e outros mediadores inflamatórios a partir de mastócitos (célula do sistema imunologico) é desencadeada por fatores internos, como estresse ou autoanticorpos. Já na urticária induzida, a resposta é provocada por estímulos externos, resultando em uma ativação semelhante dos mastócitos.
4. Diagnóstico
O diagnóstico de urticária crônica é predominantemente clínico. A anamnese detalhada é crucial e deve incluir:
– História médica: identificação de comorbidades, medicamentos em uso, alimentos consumidos e histórico alérgico.
– Características das lesões: tipo, duração, frequência e fatores agravantes.
– Exame físico: avaliação das lesões e de outras manifestações cutâneas.
Exames laboratoriais são geralmente reservados para casos onde há suspeita de causas subjacentes, como doenças autoimunes ou infecciosas. Testes cutâneos ou laboratoriais específicos podem ser indicados para identificar urticárias induzidas.
5. Tratamento
O tratamento da urticária crônica deve ser individualizado e pode incluir várias abordagens, conforme as diretrizes internacionais:
– Antihistamínicos de Segunda Geração: são a primeira linha de tratamento. Eles oferecem menos sedação e melhor tolerância. As doses podem ser aumentadas até quatro vezes em casos persistentes.
– Antiinflamatórios: em casos de angioedema, corticosteroides orais podem ser prescritos por curtos períodos.
– Anticorpos monoclonais: medicamentos como o omalizumabe têm se mostrado eficazes em casos refratários, bloqueando a IgE e reduzindo a ativação de mastócitos.
– Tratamento de condições associadas: condições subjacentes, como infecções ou doenças autoimunes, devem ser tratadas concomitantemente.
6. Monitoramento e Acompanhamento
O acompanhamento regular é fundamental, pois a urticária crônica pode apresentar flutuações. É importante que os pacientes mantenham um diário de sintomas para monitorar a frequência e a intensidade das crises, assim como possíveis fatores desencadeantes.
7. Impacto na Qualidade de Vida
A urticária crônica pode causar um impacto significativo na qualidade de vida dos pacientes. Os sintomas persistentes e a imprevisibilidade das crises podem levar a ansiedade, depressão e limitação nas atividades diárias. O apoio psicológico e o acesso a grupos de apoio podem ser benéficos para ajudar os pacientes a lidarem com a condição.
8. Considerações Finais
A urticária crônica é uma condição complexa que requer uma abordagem multifacetada para o seu diagnóstico e tratamento. Profissionais de saúde devem estar cientes das diversas apresentações da urticária e das opções de tratamento disponíveis, para que possam proporcionar um manejo eficaz e otimizar a qualidade de vida dos pacientes afetados. O empoderamento do paciente através da educação sobre a condição e o suporte emocional são fundamentais para o manejo bem-sucedido da urticária crônica.
Referência: Arquivo de Asma Alergia e Imunologia, volume 8, número 2, abril-junho de 2024
Especialista em Alergia, Imunologia e Pediatria, com atendimento no bairro Bela vista, em São Paulo e no bairro Santo Antônio, em São Caetano do Sul